Recentemente o escritor e cineasta paulistano Yuri Vieira postou no seu twitter: “O zoneamento urbano brasileiro é uma mistura de ganância, burrice, perfídia e maldade”.
“O Rio de janeiro, por exemplo, que no passado foi uma bela cidade, hoje é uma cidade feia e maltratada, incrustada numa paisagem maravilhosa”.
“Um bairro que por suas belas mansões, parques e alamedas, torna-se eminente: seu sucesso é sua desgraça”.
“Logo, todos desejam e “merecem” viver ali, e as casas vão sendo derrubadas para dar lugar a edifícios frios, feios e esteticamente incongruentes uns com outros”.
“Seus moradores, para se livrar do bombardeio de feiura e confusão contidas, utilizam suas curtas férias para ir a Paris, a Viena, a Veneza. Ou, se a grana é curta, vão a Ouro Preto, Parati, Goiás (Vila Boa) … Que lugar maravilhoso! Exclamam”.
“E nem imaginam que, se não fossem nossos políticos e empreiteiros, poderiam ter desfrutado de toda essa beleza, de todo este cenário verdadeiramente humano, sem sair de casa”.
“Sim acredite, eles querem comprar e derrubar a casa onde você cresceu”.
Em Curitiba, o bucólico bairro de Santa Izabel, por exemplo, assiste passivamente o definhar de sua história.
Com a generalização do bairro, em breve, poucos saberão que o nome é uma homenagem a Isabel de Aragão, rainha de Portugal, proclamada santa em 1625.
Agora, os arquitetos Fábio Domingos Batista e Paula Morais Frais, que se debruçaram sobre a arquitetura residencial da cidade, lançam um box de dois livros,o “Inventário de Arquitetura Residencial Curitibana“, com detalhes da arquitetura de aproximadamente 160 casas, construídas de 1920 a 1960.
São casas populares inseridas na paisagem urbana erguidas por imigrantes, artesãos e construtores anônimos.
Esta arquitetura vernacular cheia de afetividade, bons projetos e detalhes riquíssimos não é objeto frequente de estudos.
Segundo os autores “muitas construções da cidade não são analisadas e, em geral, são deixadas em um limbo teórico pela ortodoxia da academia e das pesquisas de arquitetura”.
“Essa arquitetura de escala intimista, humana, afetiva, está desaparecendo, uma vez que o processo natural da cidade é a verticalização”.
“Só se tombou exemplares coloniais, ecléticos e modernistas. Os edifícios de transição, que têm uma união de elementos, não são considerados”, avalia Fábio.
“Tem tanta coisa pela cidade que passa despercebida. Essa arquitetura é uma dessas coisas que as pessoas não olham e não se apropriam”.
Além da arquitetura ser muito trabalhada, nos mínimos detalhes, com desenhos, texturas e elementos únicos, os arquitetos responsáveis pelo inventário destacam também que esse estudo resgata uma relação urbana que se perdeu.
“A gente percebe muito as texturas nas paredes, algo herdado do período neocolonial, aplicadas com fundo de garrafas ou patinha de galinha. E também o tratamento das janelas, os santinhos nos frontões, os adornos metálicos, as datas, as chaminés, os pisos de granitina colorida, os caquinhos, o piso de madeira, as passarelas e rampas, a pingadeira”, concluem os arquitetos.
Fonte: Archdaily I Luan Galani I Haus
Tradução I Edição: https://pauloguidalli.com.br/blog/
Imagem: Paula Morais
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