Como em tempos de enchente, quando um rio transborda, o Pavilhão Brasileiro em Dubai, assinado pelos escritórios Ben-Avid, MMBB Arquitetos e JPG.ARQ, uma fina camada de água inunda todo o entorno da edificação.
Esta topografia uniforme, feita de concreto preto pigmentado, lixado, antiderrapante, deriva seu motivo poético do Rio Negro na bacia amazônica.
Nesta tela estão representados meandros, praias e remansos, criando uma grande praça de água.
Blindado por uma estrutura de tração de 48 metros de largura e 18,5 metros de altura, quatro painéis verticais que constituem uma cobertura, fixados por cabos ancorados ao espelho d’água.
Durante o dia, essa estrutura sombreia e protege as águas.
O entardecer faz do pavilhão um cubo luminoso e flutuante.
Imerso em projeções, sons, vapores e aromas sutis, este espaço forma a essência da proposta de experiência museográfica, cujo tema são as águas fluviais do Brasil.
Os visitantes que desejarem entrar na água sem molhar os pés receberão as botas Goldon, que ficaram famosas em Veneza, usadas ali sobre os sapatos na época da acqua alta.
O acesso ao pavilhão e os passeios à volta podem ser feitos nas zonas secas, onde também se encontram instalações complementares à exposição, como café, restaurante e loja.
Estes elementos estão contidos em um volume separado, suspenso, gradeado que se projeta sobre a praça de água, à maneira das casas sobre palafitas encontradas no norte do Brasil.
No primeiro andar climatizado, com acesso por escada e elevador de grande capacidade, há uma sala polivalente para palestras, debates, filmes e pequenos espetáculos.
A iluminação é totalmente controlada.
Uma tela de alta resolução ajuda nas apresentações em luz ambiente.
Do foyer, os visitantes têm uma vista privilegiada da praça de água abaixo.
Este espaço pode ser utilizado para exposições complementares, como objetos delicados ou valiosos.
Este andar e o próximo também possuem espaços para reuniões privadas com autoridades do governo brasileiro e para uso técnico.
Na cobertura, fora de vista, ficam o reservatório de água do fogo, aparelhos de ar condicionado e aparelhos museográficos, como projetores de imagem e luz, alto-falantes e aspersores para aromas.
A estrutura deixa claro que o andar térreo é a área principal para os visitantes, e que o acesso se torna mais restrito à medida que nos afastamos dele.
Somado a isso, está a clareza estrutural, tornando o pavilhão rápido para montar e desmontar, não requerendo um tipo de transporte em grande escala que a exposição pode sugerir.
Como costuma acontecer com a arquitetura brasileira, sua lógica estrutural surge como parte indissociável de sua lógica arquitetônica e da lógica de seu uso, neste caso museográfica.
O pavilhão utiliza materiais de todo o mundo, mas com o mesmo conceito que sempre caracterizou o nosso estilo arquitetônico: o oco contemporâneo.
Aliada ao reduzido montante de construção envolvida, esta coerência acarreta ganhos consideráveis do ponto de vista da economia e da sustentabilidade.
Por fim, sendo a água o elemento central da proposta, associada à nossa longa e profunda relação com os nossos rios, torna-se, aqui, um material de construção: o suporte para a exposição.
Evitando imagens que diminuem a diversidade complexa de nossos recursos naturais ou escondem uma consciência crítica urgente sobre o futuro do planeta, o pavilhão é uma grande praça de água sobre a qual paira uma grande nuvem solar, abraçando seus visitantes e os encorajando a participar ativamente em uma experiência ambiental brasileira.
Fonte: Archello
Tradução I Edição: pauloguidalli.com.br
Imagem: Expo Dubai
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