Nós convidamos o jornalista Sandro Guidalli para falar sobre o Brutalismo e como e porque este movimento surgiu na arquitetura ocidental.
Você poderia nos falar sobre o Brutalismo, o que é, quando e por que ele surgiu?
Bom dia Juliana, obrigado pelo convite, é um prazer estar com vocês.
O Brutalismo é caracterizado por um estilo utilitário com elementos modulares e o uso funcional do concreto e do ferro.
A arquitetura Brutalista surgiu em meados da década de 50 e era quase uma contraposição aos movimentos moderno e minimalista, onde os conceitos artísticos foram afastados e passa então, a prevalecer a necessidade e a função da obra.
Nós estamos falando do período pós-guerra, quando as cidades europeias precisavam se reerguer rapidamente.
Você poderia falar de algumas influências deste movimento?
O Brutalismo foi baseado nos princípios socialistas. Embora em essência ele tenha se inspirado no modernismo, ele abandonou os aspectos de ostentação.
Os materiais foram deixados, digamos, mais rígidos e os acabamentos, ao contrário das estruturas leves do Modernismo, deram lugar a edifícios sólidos, estruturados em blocos pesados.
Você poderia citar arquitetos e obras deste movimento?
O Brutalismo surge na Europa com Le Corbusier com a Unité da Habitacion, em Marselha, desenhada e construída para classe trabalhadora.
A moradia é desprovida de ornamentos, dirigida para criar laços sociais entre os residentes.
A Unité da Habitacion mostra perfeitamente o ideal do movimento tanto na estética quanto no objeto em si.
Convém lembrar que o arquiteto francês era cofundador da Bauhaus, uma escola que teve uma longa história de amor com o concreto.
Costuma-se dizer o Brutalismo é o mais feio dos movimentos. O que diz a história?
Eu diria que a história tem razão quanto a estética. Mas temos que considerar a evolução técnica que o movimento proporcionou.
Se consideramos a casa de Marselha, ainda que mostrasse traços lá do início do modernismo, a casa permitiu que o arquiteto aplicasse alguns princípios e novos pontos da arquitetura: a casa era levantada em pilotis e coberta por um terraço.
Todos os pavimentos pareciam ruas suspensas, que se tornaria sinônimos das residências sociais nos projetos de 1960 até 1970.
A ideia era estimular um tipo de interação social como se você estivesse numa rua.
Você mencionou os princípios socialista do movimento. O que você poderia acrescentar?
O Brutalismo nasceu como parte de uma ambiciosa visão urbanística utópica que pudesse criar um novo modelo de arquitetura.
Isto foi muito popular nos países comunistas da Europa. Muitas das disciplinas da arquitetura ensinadas nas escolas compartilhavam a ideologia socialista.
Os edifícios se destacavam imponentes com aqueles materiais crus. Este movimento foi popular na metade dos anos 1950 até meados nos anos 1970, e usados principalmente em edifícios institucionais.
Muito arquitetos brutalistas foram contratados para construírem escolas, casa públicas, igrejas e prédios governamentais.
Por que o nome Brutalismo?
Embora a gente associe o nome do movimento a um look brutal, o termo Brutalismo deriva do termo francês “béton-brut” que significa concreto bruto. Daí, Brutalismo ou Brutalista.
Que outro local você destacaria de fundamental importância para o Brutalismo?
Londres, sem dúvida. Considere que no pós-segunda guerra mundial, as moradias de Londres eram reduzidas e caras. O Brutalismo parecia oferecer soluções acessíveis.
Os prédios pretendiam ser democráticos e abertos para todos.
Acho que o Brutalismo definiu a arquitetura da Inglaterra nos anos 1960, não apenas como moradias sociais, que surgiam em todo o Reunido Unido, mas também como edifícios públicos.
O Barbican Centre & Estate, por exemplo, é um notável exemplo do Brutalismo. Foi desenhado pelo escritório Chamberlin, Powell e Bon, em 1960, sobre os escombros da região mais bombardeada de Londres.
O prédio é um labirinto de travessias, túneis e corredores que foram implantados para dar passagem aos pedestres em vez de veículos, com portas se abrindo para diversas áreas externas.
Um fato engraçado: O edifício foi oficialmente inaugurado pela rainha somente em 1972, que comentou ser a “maior maravilha do mundo moderno”. Mas, dez anos depois, foi votado como o prédio mais feio de Londres.
E o que aconteceu com este movimento?
O Brutalismo começou a colapsar em 1970. Muitos dos edifícios falharam ao não trazer a ideia do paraíso que os arquitetos esperavam.
Com o tempo e dado a localização em áreas periféricas, muitos destes prédios atraíram indigentes, vândalos e marginais, além de problemas de infiltrações e deteriorações que dificultavam os reparos em função do excesso de concreto. Muitas destas estruturas brutalista foram demolidas.
Em 1980, o Brutalismo cedeu espaço para o pós-modernismo e para a arquitetura high-tech, ambas mais expressivas, com formas imprevisíveis e programadas.
Mas parece que o movimento volta a agitar a cena urbana!
É verdade. O Brutalismo volta a ressurgir em popularidade, talvez por causa do seu look “instamagrável” e com as formidáveis fachadas – como brinca a jornalista Isabel Hood, que usei como fonte.
Mas o que contribuiu também, foi que a partir de 2015, uma série de livros começou a ser publicada o que provocou um renascimento deste movimento.
Muito obrigado pela participação, Sandro, e vamos nos rever em breve.
Imagem: National Theatre London – Arq Sir Denys Lasdun
Paulo T Oliveira says
Olá PG. Acho ótimo a ideia do áudio. Podemos ouvir pela casa, no carro ou no escritório. Continue abordando temas interessantes.