Há algo bastante doméstico na forma como este edifício se apresenta.
Talvez sejam as proporções das janelas da fachada.
Talvez sejam as amplas varandas do primeiro andar repletas de vegetação.
A sua presença para a rua oferece ainda a generosidade de uma casa de dois pisos.
Mas esta pepita textural não é uma residência.
Na verdade, este edifício teve muitas vidas.
O escritório de arquitetura brasileiro Memola Estudio se uniu ao arquiteto Vitor Penha para transformar o prédio da Vila Madalena, em São Paulo, de um bar em uma nova sede da empresa brasileira de alimentos naturais e integrais, Mãe Terra.
“O objetivo foi reunir as áreas administrativa, de inovação e de desenvolvimento de produtos, além de espaços para a marca experimentar alimentos”, compartilha o escritório.
O que eles realmente criaram foi uma “ casa aberta a todos, funcionários, clientes e até mesmo transeuntes da vizinhança”.
O que há de especial neste edifício é que conseguiram fazer tudo isso sem transformá-lo num centro comercial.
Não há pisos de concreto polido, grandes portas de correr ou painéis acústicos que tradicionalmente revestem os espaços dos edifícios do tipo sede.
Em vez disso, a equipe de design recorre às próprias palavras do nome comercial do cliente, Mãe Terra.
“Desde o início pensamos na terra como um material fundamental para o projeto”, diz a equipe.
Quentes, orgânicos e crus, sabiam que determinados materiais eram “capazes de expressar os valores da ligação com a natureza e o que a empresa Mãe Terra faz referência” nos seus produtos.
A arquitetura resultante “tem uma materialidade composta por variantes da terra: crua, em barro, e cozida em blocos cerâmicos”, explicam os arquitetos.
Envolver algumas paredes externas existentes com terra batida foi fundamental para a equipe de design trazer um pouco daquela textura terrosa que fundamenta instantaneamente o projeto.
Diversas extensões de paredes e portas adotam painéis verticais de madeira de pinho, não só acrescentando altura ao edifício de dois andares, mas trazendo consigo a suavidade da madeira orgânica.
Internamente, as paredes existentes foram “revestidas com tintas naturais e tons terrosos”.
Mas talvez a característica mais marcante desta nova sede seja o bloco cerâmico único que reveste as paredes, tanto por dentro como por fora.
É certamente um material resistente que faz muito mais do que apenas ficar parado e ficar bonito.
O “objetivo era utilizar um bloco cerâmico diferente dos convencionais”, encontrado em toda a região de São Paulo, conta o escritório.
Eles pesquisaram o material para obter uma nervura específica maior no mercado de construção e trabalharam com o fabricante para ampliar a capacidade de carga do bloco e também sua utilização sem revestimentos.
“A parceria resultou em um dos materiais mais marcantes do projeto”, afirmam os arquitetos.
“O layout é alternado, do tipo amarração, e as juntas de dilatação são maiores que o normal, equivalendo à largura das nervuras do produto”, explicam.
No térreo, os paralelepípedos da calçada penetram no prédio, formando um piso texturizado que lembra que você está na Vila Madalena.
Um espaço de café e cozinha é dedicado ao desenvolvimento de produtos, abrangendo o que estúdio chama de “coexistência de materiais e elementos, novos e antigos, que ecoa a linguagem visual do projeto como um todo”.
Todas as janelas e portas foram reconstruídas para abrir os espaços de escritório, “aproximando o usuário das copas das inúmeras árvores circundantes”.
Fonte: Yellowtrace
Tradução I Edição: pauloguidalli.com.br
Imagem: Fran Parente
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