“O êxtase pode acontecer se você for corajoso e aberto o suficiente para recebê-lo”, prega Theaster Gates antes de bater um grande sino de bronze recuperado de uma igreja de Chicago para inaugurar o programa de verão em seu novo Serpentine Pavilion.
Ele está se referindo não apenas a este retiro temporário, uma plataforma literal e figurativa para descanso tranquilo, performance e encontros casuais, mas também à sua prática artística, que espalhou alegria por toda sua cidade natal Chicago e sua “segunda casa” Londres.
Oleiro realizado, urbanista e polímata artístico, Gates tem uma preocupação com espaços de êxtase.
Profissionalmente, ele é mais conhecido por rejuvenescer, decorar e animar espaços comunitários onde os negros podem interagir de forma segura e criativa.
Dessa forma, ele parece uma escolha óbvia como o primeiro não-arquiteto a projetar um pavilhão de verão para as Serpentine Galleries, já que o primeiro foi construído por Zaha Hadidi há 22 anos.
Este pavilhão é sobre a possibilidade de novas amizades e, segundo ele, ‘pode ser uma das maiores embarcações que já fiz’.
A chamada Capela Negra, nos terrenos das Serpentine Galleries de Londres até 16 de outubro, é uma extensão da paixão de Gates pelo lugar.
É imponentemente alto, contendo 200 metros quadrados de espaço puro dentro de um envelope de madeira enegrecida, quase ‘queimada’, para amarrá-lo metaforicamente com seu trabalho de barro.
Recortado do teto é um óculo perfeito emoldurando o céu.
As inspirações são inúmeras: fornos de garrafa usados para queimar cerâmica em Stoke-on-Trent; cabanas tradicionais camaronesas; túmulos ugandenses, igrejas redondas húngaras e, talvez obviamente, o Panteão de Roma, com seu óculo perfeito no alto.
Também evoca memórias de momentos de êxtase em sua juventude, quando, diz ele, ‘a igreja e o clube eram os dois lugares onde você poderia perdê-lo completamente, sem nenhuma preocupação sobre como você o está perdendo’.
O programa de verão vai possibilitar momentos semelhantes, por músicos como Corinne Bailey Rae e a própria banda de Gates, Tha Black Monks, que e apresentarão na rodada.
Gates parece emocionado quando expressa sua gratidão ao Serpentine por puxá-lo para algo ‘um pouco diferente’.
A Black Chapel, ele reconhece, foi concebida como um memorial para seu falecido pai, um carpinteiro, que o ensinou a pensar crítica e racionalmente, falando com ele sobre problemas simples de telhados.
O veterano Gates também ensinou a seu filho o método ‘toch down’ de aquecer o alcatrão com uma chama aberta para afixá-lo a uma superfície, o que acabou levando à série de alcatrão bruto e textural do artista.
Sete novas pinturas de alcatrão estão penduradas nas paredes do pavilhão.
Toda essa escuridão literal pode lembrar uma condição tão pesada e implacável quanto o alcatrão, mas culmina naquele óculo, uma janela de esperança.
A negritude, diz ele, é ‘a capacidade de permanecer aberto, otimista, ativo em sua vida cultural e espiritual, mesmo que a verdade da subjugação esteja ao seu redor’.
Fonte: The Spaces I Ellen Himelfaber
Tradução I Edição: pauloguidalli.com.br
Imagem: Iwan Baan
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